SP: Governador e PM promovem terror contra motoboys

Repercutimos matéria publicada no portal de A Nova Democracia, denunciando abusos contra motoboys promovidos pela Polícia.

 

SP: Governador e PM promovem terror contra motoboys

O governo estadual de Rodrigo Garcia (PSDB), através da Polícia Militar (PM) e a “Operação Sufoco”, tem aplicado terrorismo contra motoboys de São Paulo (SP) sob pretexto de “combate ao crime”. Conforme revelam acontecimentos recentes divulgados em vídeos e entrevistas pela Ponte Jornalismo, a operação punitiva é realizada contra todos os trabalhadores, principalmente negros, que são abordados ostensivamente, sendo obrigados a pagarem multas de milhares de reais e ainda têm as suas motos confiscadas pelos agentes do velho Estado. Tudo isso durante horário de trabalho, quando não cometeram crime nenhum.

No dia 8 de agosto, policiais agrediram e ameaçaram com um taser o motoboy Reginaldo, de 29 anos, em Santana, na zona norte da capital paulista. A violência policial foi filmada. Nas gravações é possível ver o trabalhador gritando enquanto resiste à apreensão injusta da sua moto, afirmando que tudo o que tem na vida é a sua moto e que seu pai faleceu recentemente, deixando ele sozinho. Enquanto o trabalhador se recusa a entregar sua única fonte de sustento, o policial ameaça: “você quer levar um choque?”.

A Operação Sufoco foi iniciada pelo Governo de São Paulo nove dias após um assalto por um falso entregador que terminou em uma morte. Ela foi lançada “para combater a criminalidade na cidade de São Paulo, em especial crimes patrimoniais, com destaque para os delitos cometidos por falsos entregadores de delivery”, segundo diz o governo. Entretanto, motoboys denunciam que a operação serve unicamente para perseguir e criminalizar os motoristas. Muitos desistiram de rodar com suas motos após as recorrentes abordagens policiais diárias, vexatórias para os trabalhadores. Alguns também relatam que foram parados até oito vezes em um mesmo dia pelos policiais, que os humilham, ávidos por apreender as motos. Os motoboys também denunciam que as abordagens policiais levam ao cancelamento das suas contas em aplicativos de entrega, uma vez que ficam parados por horas nas blitz, sem entregar os pedidos.

Henrique Silva Barros, motoboy, relata que, após ter sua moto apreendida, ser agredido e receber uma multa de R$ 5 mil por acusações falsas da polícia (“direção perigosa” e “não atender ordem de parada”, entre outras), parou de rodar com a moto e começou a fazer bico em uma doceria:  “Com a moto eu consigo um dinheirinho a mais, mas não tem como eu perder de novo. As multas do Detran vêm chegando e não sei nem como vou pagar isso. Às vezes eu tiro um trocado [no bico], mas com R$ 100 você não consegue comprar nada hoje em dia”, denuncia. “Minha filha vai fazer dois anos no final de semana, eu queria fazer uma festa para ela, mas, se eu sair de moto e perder, eu não sei o que eu faço”.

Ao impedir o trabalho legítimo dos motoboys, o governo do estado de São Paulo de Garcia contribui para o aumento do índice de desemprego entre jovens no Brasil. No segundo trimestre de 2022 a falta de emprego atingiu 19,3% dos jovens de 18 a 24 anos no estado, sendo o dobro da média nacional.

MOTOBOYS SÃO MULTADOS E PRESOS ENQUANTO POLICIAIS ASSASSINOS E TORTURADORES RECEBEM ASSISTÊNCIA JURÍDICA GRATUITA EM NOVO DECRETO

Enquanto humilha, rouba e impede milhares de motoristas de aplicativo de trabalhar para ganhar legitimamente seu sustento, o governador de São Paulo beneficia policiais envolvidos em assassinatos e tortura com assistência jurídica gratuita. O decreto foi assinado no dia 19 de julho. Ele garante assistência jurídica gratuita por parte da Defensoria Pública do Estado a policiais civis e militares envolvidos em processos judiciais. Pelo documento assinado, terão direito ao benefício os agentes acusados de homicídio doloso (tentado ou consumado), lesão corporal grave ou seguida de morte, abuso de autoridade, tortura e fuga de pessoa presa durante exercício da profissão. A Defensoria também poderá atuar gratuitamente nos casos de policiais em formação que se envolvam em algum dos crimes ocorridos durante operações.

“Vamos prestar assistência jurídica gratuita a todos os policiais militares que prestando serviço de segurança pública possam incorrer em algum tipo de ocorrência que leve esse policial a ser processado. Esse convênio abrange 95% dos processos de acusações recebidos até hoje por policiais que muitas vezes no exercício de seu trabalho possam ser acusados de homicídio doloso, tortura, lesão corporal, fuga de presos”, afirmou o governador. É a continuidade da impunidade aos criminosos da polícia militar, que ocorre desenfreadamente em todo território nacional.

A GUERRA É CONTRA O POVO E NÃO CONTRA O ‘CRIME’

Segundo a PUC-RS, somente na região metropolitana de São Paulo entre 2014 e 2021, o número de extremamente pobres passou de 381 mil para mais de 1 milhão de pessoas. O estado de SP também conta com 18% da população abaixo da linha da pobreza, de acordo com o Mapa da Pobreza da FGV em 2022.

O estado e a cidade de SP também contam com os maiores índices de trabalho infantil do país na última década e, depois da pandemia, teve quase 30% de evasão escolar. Em 2022, hipermercados em SP estavam mantendo as carnes trancadas no balcão de atendimento para evitar confiscos das massas famintas. No estado mais populoso do país, a taxa de desemprego foi de 9,2% no segundo trimestre de 2022.

Enquanto o povo paulista sofre com desemprego, fome e violência policial, o atual governador Rodrigo Garcia (PSDB), ex-vice que assumiu após a saída de Dória, tenta sua reeleição para 2022 aplicando o terror do velho Estado contra os motoboys – profissão que na maioria das vezes é a única saída que os trabalhadores têm para o desemprego.

De acordo com o balanço da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, apenas no mês de maio, mesmo mês em que a operação foi iniciada, a Sufoco deteve mais de 2,8 mil pessoas e vistoriou cerca de 172,3 mil veículos, sendo 61,6 mil motocicletas. Foram apreendidos 7,1 mil automóveis, sendo 3,2 mil motos. Para intensificar seu sujo papel contra o povo, os agentes da repressão receberam do governador, em março de 2022, aumento de 20% no salário.

Muito além de uma simples agenda eleitoral do governador, que defende “tolerância zero” na área da “segurança pública”, se trata de política demagógica que serve, na verdade, para aplicar a guerra reacionária contra o povo. Os representantes das classes dominantes buscam, com isso, conter rebelião das massas contra a pobreza e a miséria utilizando como pretexto o “combate ao crime”.

Como carniceiro que é, Garcia promete, por exemplo, alterar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e aumentar o período máximo de detenção de crianças de três para até oito anos. Pretende, ainda, ampliar o número de vagas no sistema penitenciário com a inauguração de novas unidades prisionais. O estado de São Paulo sozinho, hoje, representa quase um terço (cerca de 200 mil pessoas) da população carcerária de todo o Brasil.

As evidências da guerra contra o povo não poderiam ser mais claras: o investimento em todas as instâncias (saúde, educação, transporte, etc.) caiu 50% em relação há oito anos atrás – durante todo o período o estado de SP esteve governado pelo mesmo partido de Garcia, o PSDB. Segundo os Relatórios Resumidos da Execução Orçamentária (RREO), entre 2013 e 2021, último ano com dados completos, o investimento do governo de São Paulo caiu de R$ 14,8 bilhões para R$ 7,4 bilhões.

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