José Maria, presente na luta!

É com imenso pesar e com o sentimento de uma grande perda, que a Coordenação da Liga Operária, recebeu a triste notícia do falecimento do grande lutador do povo José Maria Galhasi. O Zé como muitos o chamavam, sempre foi e seguirá sendo um exemplo de compromisso com a luta classista e combativa, a qual dedicou mais de 8 décadas de luta, sem ilusão nesse velho e podre Estado burocrático latifundiário brasileiro.

“… Todo o homem tem de morrer um dia, mas nem todas as mortes têm o mesmo significado. Sema Tsien, escritor da China antiga, dizia:

‘Embora a morte colha a todos igualmente, a morte duns tem mais peso que o monte Tai, enquanto que a de outros pesa menos que uma pena.’

Servir o Povo – Mao Tsetung (8 de setembro de 1944)

Para nós, não dimensionamos a perda desse grande companheiro, cujo seus exemplos e conduta, seguirá inspirando todos que o conheceu e principalmente a juventude combatente, que esteve junto nas trincheiras de combate dos levantes de 2013/2014, onde mesmo com sua idade avançada, se colocou na frente das batalha, enquanto muitos se acoelharam e se assustaram com a rebelião popular, ele vibrava. Por isso, se tornou um símbolo de luta aos que fizeram estremecer os pilares do velho Estado e todo seu aparato repressivo.

Veja na integra a matéria do AND: 

Inesquecível lutador do povo, o sempre jovem Zé Maria Galhasi

Faleceu, no dia 24 de agosto, em São Paulo, José Maria Galhasi, grande combatente comunista, figura inapagável do movimento comunista brasileiro e ferrenho internacionalista. Aos 96 anos, a causa foi morte natural, já que sua saúde estava debilitada por mais de oito décadas de combates e heroicas lutas a serviço do proletariado revolucionário. José Maria é um dos veteranos fundadores do AND, permanente e incansável entusiasta.

Nascido em 1926, entre as duas grandes guerras mundiais, no bairro do Méier, subúrbio do Rio de Janeiro, José Maria foi testemunha e personagem dos principais embates da luta de classes em nosso país. Já no início da sua juventude, como aluno do Colégio Pedro II, ingressou no Partido Comunista do Brasil (P.C.B.) em 1944, no contexto do grande entusiasmo pelo decisivo papel da União Soviética e do grande Stalin na derrota do nazifascismo. José sempre se referia a um estudante do Pedro II que passou a procurá-lo para conversar, impressionado pela postura combativa do jovem secundarista Zé Maria frente a trotes degradantes no colégio. Esse amigo de colégio, que viria a ser o camarada Otávio, morreu nas masmorras do Estado Novo getulista. José Maria participou da luta em defesa do partido e contra os revisionistas na fração liderada por Mário Alves (PCBR), e desde lá combateu o profundo imobilismo da direção do PCBrasileiro frente ao golpe militar de 1964. José integrou a resistência armada ao regime militar fascista, atuando em sua linha de frente e prosseguiu seu combate na prisão.

Requisitado pelo PCBR a uma missão sabidamente arriscada, por decisão consciente e voluntária, José aceitou e, na sua execução, foi preso. Nos cárceres do regime fascista, José Maria foi vítima das mais cruéis torturas por cento e vinte dias. Os algozes, indignos, chegaram ao ponto de torturarem não apenas ele, mas também sua esposa e sua filha, na sua presença. Entre as sessões de espancamentos e torturas, exausto e fraturado, José Maria realizava, na cela mesmo, uma série rigorosa de exercícios físicos, para manter-se forte e continuar resistindo. Sua conduta firme em não passar nenhuma informação ao inimigo foi exemplar para muitos combatentes de sua época, como segue sendo aos combatentes de hoje.

José foi um tenaz crítico da Comissão da Verdade, conciliação dos governos do PT com os militares torturadores do regime de 1964. Não admitiu a conciliação abjeta que o oportunismo trançou com os torturadores. Por não terem sido exemplarmente punidos todos os crimes que os militares cometeram, hoje a extrema-direita e seu chefete, Bolsonaro, podem abertamente exaltar o torturador coronel Brilhante Ustra, impunemente. Porém, o depoimento de José Maria na Comissão da Verdade foi histórico, assinalando que, tendo acompanhado os julgamentos de Nuremberg, nunca lá viu alguém reclamar de revanchismo.

Em entrevista ao jornal A Nova Democracia, na edição de fevereiro de 2010 disse:

“Como preso e torturado pelo regime militar e como alguém que viu desaparecer os melhores filhos do povo brasileiro sob o suplício covarde dos que se achavam no poder à época, e ainda se acham hoje, infensos a qualquer tipo de punição, não admito esta conciliação abjeta que Luiz Inácio trança com os torturadores”.

Ao sair da cadeia, ingressou no Partido dos Trabalhadores, numa perspectiva de transformar o projeto de criação do PT num partido de feição marxista-leninista, tendo ficado 11 anos travando luta dentro daquela organização. Reconhecendo a ilusão de considerar possível travar a luta dentro dele, teve a clareza de reconhecer que a prática do PT no gerenciamento do Estado brasileiro não representou nenhuma traição, uma vez que, como percebeu depois, a natureza de classe do PT, desde sua gênese, só poderia dar aquele resultado funesto, ainda que tivesse que manter, por certo tempo, um discurso e prática radicalóide para enganar os incautos.

Prosseguiu lutando contra todo tipo de revisionismo, reformismo e oportunismo. Encontrou no seu percurso tantos outros veteranos militantes comunistas, e passou a dedicar-se ao restabelecimento do Partido Comunista em nosso país como verdadeiro partido revolucionário do proletariado.

José Maria é um dos fundadores do jornal A Nova Democracia, tendo prestado inestimável contribuição ao AND, principalmente na fase de sua implantação, graças a sua vasta rede de amizades e de ligações políticas construída em décadas de lutas, o que também contribui muito para a produção de artigos e reportagens no campo democrático-revolucionário em nosso país.

José também participou da fundação do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos, ocupando o cargo de vice-presidente da entidade. Foi ativo nas campanhas do Cebraspo até onde sua saúde possibilitou. Entusiasta da Revolução Agrária, foi um destacado defensor do movimento camponês, defendendo a terra para quem nela vive e trabalha e denunciando a repressão do velho Estado contra os camponeses em luta. Incentivou e apoiou muitos companheiros na luta pela moradia na Baixada Fluminense. Participou, representando o Cebraspo, em inúmeras atividades anti-imperialistas como nos atos contra a presença dos carniceiros Bush (2007) e Obama (2011) no Brasil e em atos em defesa da Palestina e dos presos políticos no mundo.

Nas jornadas de junho de 2013 e 2014 foi a figura mais emblemática das manifestações que tomaram conta do Rio de Janeiro, como em todo o país. Sua imagem com o cartaz infestou a internet, fazendo com que muitos jovens vissem nele inspiração para o início de seus combates pela Revolução. Seus companheiros mais próximos relatam a dificuldade que era retirar Zé dos atos quando a polícia começava a reprimir os manifestantes. Vigoroso combatente, sempre queria participar da resistência junto à juventude. Já com mais de 80 anos, participou ativamente até onde sua saúde permitiu, junto a sua companheira Beatriz, da resistência aos ataques das forças policiais que tentavam pôr um fim à insatisfação popular, como na famosa manifestação em frente a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde estava, mesmo com pneumonia. Foi um entusiasta da Frente Independente Popular (FIP), movimento criado em 2013 para organizar a energia de uma juventude aguerrida que se negou a se enquadrar nos limites estreitos que os partidos e organizações oportunistas e eleitoreiros queriam enquadrar o protesto popular. No I Encontro da FIP realizado em 2013 na Aldeia Maracanã, estava na linha de frente da resistência à entrada do Bope para atacar e acabar com a reunião. Seus companheiros só conseguiram retirá-lo de lá apelando a que ele ajudasse a proteger senhoras e crianças que deveriam ser retiradas no local. Nunca alguém o viu se queixar das dificuldades naturais da idade. Foi um exemplo para a juventude de combatividade e persistência na luta. Quando, em 2014, vários companheiros jovens foram presos pela participação nas jornadas de protestos, ele os reforçava nas suas convicções: Parabéns, a prisão é uma medalha no peito de um revolucionário.

Estava sempre rodeado pela juventude, a qual ele, particularmente, ficava extremamente satisfeito de receber em seu pequeno apartamento na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana. Passava a sua experiência e os instava a não esmorecer na luta, a erguer sempre alta a bandeira vermelha do comunismo, bandeira que manteve erguida toda sua vida.

Mantinha de forma disciplinada sua atividade física diária até avançado em anos, tendo sido jogador de vôlei na sua juventude, o que contribuiu para manter sua saúde e disposição, mesmo nos períodos em que passou encarcerado.

Julgava-se um homem de ação, mas seus ensinamento expostos nos inúmeros depoimentos e intervenções em eventos públicos e, principalmente, o seu exemplo de vida, ilumina a teoria e a prática de todos que creem que só a Revolução de Nova Democracia ininterrupta ao Socialismo dará solução aos graves problemas que o povo brasileiro vive; entusiasta combatente internacionalista, tinha a mesma convicção, de que apenas a Revolução Proletária Mundial poderia dar a emancipação e o reino da liberdade aos povos oprimidos e proletariado internacional.

Zé Maria Galhasi é um exemplo de comunista convicto e confesso por toda sua vida, que não se deixou abater pela onda de revisionismo confluente com a ofensiva contrarrevolucionária geral do imperialismo a partir dos anos 1980. Soube, com sua firme posição de classe, encontrar e reconhecer o maoísmo como terceira, nova e superior etapa do marxismo, o marxismo-leninismo de nosso tempo. Nunca deixou-se encantar pela contrapropaganda do imperialismo, em sua fase de decomposição sem precedentes, repelindo com firmeza as modas e pseudoteorias pequeno-burguesas. Intransigente defensor da ditadura do proletariado, jamais renegou as experiências socialistas, defendeu ferrenhamente a figura do grande camarada Stalin e do Presidente Mao Tsetung, e soube reconhecer a necessidade de sucessivas Revoluções Culturais Proletárias para desenvolver a luta de classes no socialismo e transitar ao luminoso comunismo. Foi um defensor do processo revolucionário no Peru dirigido pelo PCP e os aportes do Presidente Gonzalo e seu pensamento. Jamais permitiu-se afrouxar, e reconheceu sempre que apenas a guerra popular pode fazer com todos os reacionários e com o terror contrarrevolucionário da reação, por mais poderosa que tente aparentar. Sua obra, legado e vida de dedicação total e exclusiva à causa do Comunismo, à causa da classe, do proletariado, são parte do arsenal de experiências do movimento revolucionário no Brasil e no mundo.

Companheiro José Maria Galhasi, presente na luta!

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