Editorial semanal de AND – Espetáculo eleitoreiro e patético

Reproduzimos abaixo editorial semanal do jornal A Nova Democracia.

Editorial Semanal – Espetáculo eleitoreiro e patético

Entre acusações e encenações de brigas, ocorreu o primeiro debate presidencial, antecedido por sabatinas dos principais candidatos das classes dominantes a governar o sistema de exploração e opressão. E toda a Nação assistiu, boquiaberta, a uma verdadeira presepada.

Promessas não faltaram. Inspirados uns pelos outros, as ofertas de milagres só cresciam no decorrer do debate. Bolsonaro, que até ontem chamava os programas assistencialistas de “socialismo”, hoje se tornou, talvez, o seu maior defensor, desde que seja ano eleitoral. As mentiras, também, foram fartas, de todas as partes. E todos assistiram ao hilário espetáculo, de Bolsonaro e Luiz Inácio acusando-se mutuamente de chantagear o povo com esses programas para ganhar voto. Dizia o sábio: os candidatos só falam a verdade quando acusam uns aos outros.

Houve também o desfile das rainhas do latifúndio, as ilustres senadoras, que “lacraram” no antibolsonarismo durante o debate, muito embora ambas, aberta ou secretamente, tenham apoiado Bolsonaro e seu discurso latifundista até outro dia. A candidata Soraya Thronicke, num certo momento, vejam só, prometeu “revelar tudo sobre todos”, chegou a pedir a algum delegado de polícia presente para reforçar sua segurança! Mas aparentemente esqueceu de revelar o que sabia… Cômico, se não fosse trágico.

A polarização eleitoral reacionária, em verdade falsa polarização, está dada e o debate só a consolidou. Já está praticamente definido o segundo turno, entre Luiz Inácio e Bolsonaro. O material inflamável para a violência política se acumula, quanto mais cresce a possibilidade de derrota de Bolsonaro.

Dos programas de governo, como se vê, pouco foi discutido. Luiz Inácio, num verdadeiro devaneio, apenas diz que o Brasil voltará a 2008 – auge do seu governo – porque ele “sabe como fazer”, porque “já fez” uma vez. Não se dá conta que a situação de 2002 não é a mesma de 2022, nem na economia, tampouco no político e no institucional. A explosão de preços dos bens agrícolas não existe hoje, como em 2002. A crise política, hoje, é exponencialmente pior do que naquele ano e é mais abrangente. Sua base econômica é de decomposição do capitalismo burocrático e há a crise militar como algo novo, grave a ponto do ministro da Defesa – e mesmo as instituições Forças Armadas – ser obrigado a questionar as urnas eletrônicas para não perder o controle sobre as suas tropas, sensíveis à ideia da ruptura institucional propagada por Bolsonaro.

Não é a vitória de Luiz Inácio e da falsa esquerda eleitoreira que o cerca que levará à derrota da extrema-direita, pois é ela somente uma forma de expressão da velha ordem. Muito ao contrário, a derrota eleitoral de Bolsonaro pode, em situação de grandes agitações nos quartéis com grandes rebeliões populares, ser o gatilho para desatar perigosas provocações que conduzam a um sério risco de ruptura institucional como condição para manter-se de pé o velho Estado burocrático-latifundiário. Apenas as massas populares, seriamente mobilizadas em defesa de seus direitos pisoteados, podem enfrentar a reação golpista, e garantir e ampliar os direitos e liberdades democráticos. Somente o avanço revolucionário e o triunfo da revolução democrática poderão derrotar e enterrar de vez a tendência ao fascismo.

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