GN Saibaba presente na luta!

“Meu Amor,

vida da minha vida,

esses dias eu penso em morte,

quero dizer sobre a vida,

porque

eu tenho um pacto de amor com a beleza,

eu tenho um pacto de sangue com meu povo.”

G. N. Saibaba em carta a sua esposa em 2018.

É com grande pesar que a Liga Operária expressa seu sentimento e solidariedade internacionalista ao falecimento de G. N. Saibaba ocorrido neste último sábado (12/10). Para nós o professor G.N. Saibaba foi e seguirá sendo um intransigente militante em defesa dos direitos do povo na Índia e da causa de libertação de todos os povos oprimidos do mundo. Sua atuação na defesa de seus ideais enquanto professor da Universidade de Delhi e enquanto presidente da Frente Democrática Revolucionária (FDR) despertou a fúria dos reacionários indianos que o perseguiram e o aprisionaram.

Panfleto da Liga Operária na campanha pelar libertação do professor Saibaba.

Saibaba foi sequestrado por agentes da policia em 2014 sem direito a julgamento sob a pretensa “lei de prevenção de atividades ilegais” e desde então foi preso e solto diversas vezes, sendo que a última prisão durou de 2017 a 2022. Esta lei, muito parecida com a lei anti-terrorismo aprovada por Dilma(PT) no Brasil, permite prender preventivamente qualquer pessoa do povo sem que hajam provas nem julgamento, foi o que houve com Saibaba.

Condenado a prisão perpetua injustamente em 2017. Sua morte foi na realidade um assassinato a longo prazo, resultado direto de complicações em seu quadro de saúde causadas pelas condições do encarceramento nas masmorras do velho estado indiano.

Como todos sabem, o professor tinha 90% do corpo paralisado devido a poliomielite que sofreu na infância. Na conferência de imprensa que deu logo após a prisão, enfrentando as fortes dores para conseguir falar com a imprensa e o povo, denunciou que “Fiquei preso em uma prisão que tem capacidade para 1.500 presos, mas 3.000 pessoas estavam alojadas lá em condições precárias. Não havia sequer uma única rampa na prisão para pessoas como eu”.

“Em vez de ir para o hospital, optei por falar hoje com a imprensa porque vocês me apoiaram. Minha família enfrentou estigma e fui chamado de terrorista… Estou sentado na frente de vocês hoje para conversar com todos vocês com muitas dores no corpo. Não consigo falar direito nem estou em posição de sentar aqui”, completou ele.

Na ocasião de sua soltura em 2022 por falta de provas ativistas indianos denunciaram que a decisão tardia do Supremo Tribunal de Bombain, que deu a liberdade a Saibaba, impediria a recuperação total do professor – o que corrobora a denúncia de assassinato a longo prazo.

Mesmo nas difíceis condições impostas pela perseguição, Saibaba nunca deixou de defender o povo indiano, um motivo que o moveu durante grande parte da vida.

Presidente da FDR por anos, Saibaba defendeu os povos tribais da Índia, ameaçados e perseguidos pelo Estado indiano e grandes mineradoras latifundiárias e imperialistas, desde a década de 1990.

Saibaba também denunciou de forma irrefreável as ações das forças da repressão contra o povo e as políticas antipovo e de castas na Índia.

Por três anos, entre 2009 e 2012, prestou um papel fundamental na reunião de democratas no Fórum Contra a Guerra ao Povo. Nele, Saibaba denunciou a Operação Caçada Verde, que, sob o pretexto de perseguir a Revolução Indiana dirigida pelo Partido Comunista da Índia (Maoista), cometeu inúmeros crimes contra os revolucionários e massas da Índia.

Nesse período, Saibaba participou de vários eventos internacionais para condenar a guerra contra o povo e defender a Revolução Indiana.

Foi justamente por conta dessas atividades, que feriram os interesses sanguessugas das castas dominantes e dos imperialistas na Índia, que a perseguição contra Saibaba endureceu. Em 2012, o professor foi ameaçado de despejo da universidade em que trabalhava. A tentativa foi impedida por uma grande campanha internacional de personalidades democráticas e, inclusive, do meio acadêmico.

Em setembro de 2013, porém, o Estado indiano, a serviço das classes dominantes, invadiu a casa de Saibaba, o arrancou de suas cadeiras de rodas e o prendeu. A acusação foi de que o professor (que já sofria um quadro de paralisia), havia cometido um roubo em Maharashtra. Ele acabou solto.

Foi o início da longa trajetória de novas prisões contra o professor. Reproduzimos abaixo a trajetória da luta de Saibaba por liberdade publicada pelo jornal A Nova Democracia.

“Em 2014, o Dr. Saibaba foi sequestrado clandestinamente de dentro da Universidade de Delhi e, na sequência, preso arbitrariamente sob a fascista “Lei de Prevenção de Atividades Ilegais”, após tomar parte nas campanhas de defesa dos direitos do povo, já sendo acusado de ligação com os maoístas. Ele era também ativo na luta pela libertação dos presos políticos indianos e na defesa da luta camponesa contra a instalação de multinacionais na Índia Central e Oriental. Professores e ativistas da Universidade de Delhi denunciaram no mesmo dia do sequestro a perseguição contra Saibaba. Ramdev, irmão do Dr. Saibaba, denunciou o isolamento que lhe fora imposto, afirmando ainda que os carcereiros não lhe entregavam os medicamentos utilizados desde que sofrera uma parada cardíaca, claro ato de tortura.”

“Em 3 de julho de 2015, a Alta Corte de Bombaim concedeu à Saibaba três meses de liberdade mediante pagamento de fiança após seguidas denúncias da deterioração da sua saúde na prisão. Em entrevista concedida na ocasião, ele questionou: “Por que o governo tem medo de mim? Eu sou 90% paralisado? Este Estado acha que uma pessoa que tem a coragem de se aproximar, ver e descrever a realidade é uma ameaça”. O professor também seguiu em sua defesa da legitimidade da luta revolucionária e condenando o velho Estado indiano pela violência desatada contra o povo, bem como denunciou as próprias condições de sua prisão e as violências sofridas em seu tempo no cárcere.”

“Em dezembro do mesmo ano, a Suprema Corte de Bombaim cancelou a fiança do professor, prendendo-o no natal. Sob renovadas tentativas de assassinato silencioso, Saibaba denunciou, em 2016, em carta ao ao principal juiz do distrito de Gadchiroli que não estava recebendo tratamento para o grave ferimento em seu ombro esquerdo adquirido na prisão e que isto agravava o perigo de perder o movimento de sua mão esquerda. Na época, pediu ao juiz para que fosse encaminhado imediatamente para o tratamento e requisitou instalações mínimas e ajudantes para tarefas diárias como banho, uso do sanitário, deslocamento, alimentação entre outras adaptações adequadas a sua condição.”

“Em 4 de abril de 2016, Saibaba foi libertado sob fiança novamente, sendo, porém, condenado à prisão perpétua em março de 2017. Em carta escrita da prisão à sua esposa, Saibaba afirmava:”

“‘Eu não tenho um cobertor. Eu não tenho um suéter ou jaqueta. À medida que a temperatura diminui, as dores excruciantes e contínuas nas pernas e na mão esquerda aumentam. É impossível para mim sobreviver aqui durante o inverno que começa a partir de novembro. Eu moro aqui como um animal nos últimos suspiros’.”

“Em 17 de dezembro de 2018, como forma de continuar o seu plano de assassinato silencioso, o velho Estado indiano acusou também os médicos de Saibaba (o geriatra Dr. Haji Bhatti, o neurologista Dr. Prasad e o cardiologista Dr. Gopinath) de serem “simpatizantes do maoísmo” por atestarem o grave estado de saúde em que se encontrava o professor. No dia 21 de outubro de 2020, Saibaba iniciou uma greve de fome para protestar contra sua prisão e as condições em que era mantido.”

“Foi em 2022 que uma primeira absolvição foi concedida à Saibaba, pelo Tribunal Superior de Mumbai. O Supremo Tribunal Indiano decidiu, porém, de última hora, suspender a decisão, que havia se dado após um mês de campanhas internacionais em defesa da liberdade, da vida e da saúde do professor.  A Agência Nacional de Investigação (ANI) da Índia denunciou ao Supremo Tribunal que a acusação contra o prisioneiro era “muito grave” e que as irregularidades processuais (como a forja de “provas” pelas autoridades) não eram suficientes para “justificar a absolvição”. O protesto de seus estudantes na Universidade de Delhi contra a decisão reacionária foi duramente reprimido.”

Foi durante esse longo período que Saibaba escreveu um conjunto de poemas sobre seu tempo no cárcere e a luta das massas. Defendeu, em um deles, como um recado para a própria mãe, que “a liberdade que perdi / é a liberdade que multidões ganharam / porque todo aquele que toma parte por mim / toma para si a causa dos desgraçados da terra / onde minha liberdade hoje repousa”.

Mortalidade é verdade, como Saibaba escreveu, “mesmo a terra morre” mas como ele desejava “devem haver muitas terras”. Portanto a morte atingiu Saibaba mas seu pacto de sangue com seu povo ainda vive. A revolução na Índia segue em curso e seu povo combate em sua justa guerra por libertação.

Gokarakonda Naga Saibaba presente na luta!

 

Liga dos camponeses pobres em campanha pela liberdade de Saibaba.

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