Viva o grande chefe revolucionário Zumbi de Palmares!

A Liga Operária, nesse dia 20 de novembro, saúda todo povo preto do Brasil e do mundo, não por motivo dessa de ser lembrado o “dia da consciência negra”, mas pelo grande exemplo deixado pelo grande chefe guerreiro Zumbi dos Palmares e o seu exército de guerreiros, que ainda hoje em pleno século XXI,  325 anos após terem derramado o sangue que rega as sementes que germinam, cada vez mais forte, para honrar os que tombaram na luta:

“Cai orvalho de sangue do escravo,

cai orvalho na face do algoz,

cresce cresce seara vermelha,

cresce, cresce vingança feroz.”

Castro Alves

 

texto extraído do jornal A Nova Democracia

O 20 de novembro é lembrado em todo o país como “dia da consciência negra”; preferível é dizer que trata-se do dia em que o grande guerreiro e chefe revolucionário do povo preto, Zumbi dos Palmares, junto com seu Exército, resistiu e preferiu enfrentar a morte no combate do que capitular perante o inimigo escravagista, conformando o Dia do Povo Preto. Por isso, foi covardemente assassinado e os seus algozes, longe de tê-lo matado, elevou-o ao altar dos imortais, já que todos que morrem em defesa da massa explorada e oprimida na luta por liberdade faz com seu sangue regar as sementes, que germinarão uma nova sociedade. Exemplo esse que assombra todos os reacionários de plantão, que insistem em deturpar o papel desses homens e mulheres.

A luta armada dos pretos escravizados, dirigidos por Zumbi, era “um péssimo exemplo” na época, era a destruição da política escravocrata da Coroa Portuguesa, que encontrava-se em guerra contra os holandeses, na disputa dos territórios do país, justamente em uma das capitanias mais ricas, Pernambuco, (governada pelos descendentes dos Duarte Coelhos até 1716), promissora e bastante cobiçada pela Coroa de Portugal (que assume definitivamente a sua administração após 1716). Essa disputa se estende por 24 anos e é principalmente nesse período que os pretos escravizados fugiam e construíam suas fortalezas mata adentro, os quilombos. A invasão holandesa se deu na região em 1630 a 1654. Depois de vencer os holandeses, os portugueses passaram a atacar os quilombos e foi num desses ataques que a Expedição de Brás da Rocha Cardoso sequestrou Zumbi.

O menino, que era livre em Palmares, foi sequestrado e entregue ao padre Antônio Melo, em Porto Calvo, que o batizou como Francisco, ensinando a língua portuguesa e Latim. O jovem Francisco acompanhava o sofrimento de seu povo escravizado e jamais tirou de sua mente o desejo de ser livre, mas enquanto o padre o ensinava, ele buscava aprender com muita atenção. Aos 15 anos de idade, ele foge para a Serra da Barriga onde se localizava Palmares, escala um grande rochedo para fugir das trilhas e dificultar os que o perseguissem. Após a fuga adotou o nome de Zumbi (significa Guerreiro) e em Palmares foi recebido pelo seu tio Ganga-Zumba, que era o chefe do quilombo.

Zumbi se destaca nas ofensivas contra os engenhos, libertando seus irmãos escravizados e se torna o grande chefe militar de Palmares. Sua estratégia consistia na luta e não na conciliação e sua tática militar durante as ofensivas consistia em surpreender o inimigo empreendendo a guerra de guerrilhas. Com os grandes exemplos de luta dos palmarinos dirigidos por Zumbi, o quilombo cresce e passa a ser grande ameaça, pois havia criado formas de produção baseadas em sobreviventes relações comunitárias e relação comercial com os povoados vizinhos: o excedente era negociado em forma de escambo (troca), com mercadorias que eles não produziam.

Os ataques dos portugueses tornam-se constantes e após seguidas derrotas, a Coroa de Portugal chama o então chefe Ganga-Zumba para negociar e propôs algumas concessões: as autoridades se comprometiam em libertar os palmarinos feitos prisioneiros em um dos confrontos; liberdade aos nascidos em Palmares; e a permissão para realizar comércio. Em troca, os palmarinos deveriam entregar os escravos fugitivos que haviam buscado abrigo em Palmares. Ganga-Zumba, ao debater tais propostas, tenta fazer os 14 mocambos aceitarem a oferta, mas é interpelado por Zumbi, que via uma armadilha da Coroa, para retirá-los da fortaleza da Serra da Barriga e logo teria afirmado: “Eles não pode dar o que nos pertence!”, e ao ser questionado por seu tio Ganga-Zumba, sobre a promessa de liberdade, teria sido taxativo: “Liberdade não pode ser dada! Liberdade se conquista!”. Nesse embate, verdadeira luta entre dois caminhos, Zumbi é seguido por vários guerreiros e das 14 aldeias, 11 fecham posição com Zumbi, derrotando a posição conciliadora de Ganga-Zumba.

DE GRANDE LÍDER GUERREIRO A CONCILIADOR?

Ganga-Zumba chefe de Palmares

A historiografia brasileira é muito carente de informação, porém nos apresentam alguns dados da figura de Ganga-Zumba. Afirmam que era filho da princesa Aqualtune, irmã do rei Antônio I do Congo – dinastia de Nlanza (Reino do Congo – localizado na atual Angola) e de Sabina mãe de Zumbi. Aqualtune foi aprisionada pelos portugueses ao liderar um levante de cerca de 10 mil homens na Batalha de Mbwila, trazida ao Brasil para ser reprodutora, mas ao chegar ao país liderou uma fuga para o Quilombo dos Palmares.

Até o ano de 1678, Ganga-Zumba não teve a sua posição questionada e hoje há muitos movimentos negros brasileiros que o admiram e reverenciam o seu nome, sem levar em conta o que ocorreu na disputa com Zumbi. Sem dúvida alguma, hoje, sob os fatos relatados e passados de geração a geração, podemos ter uma visão maior de alguns fatos. Zumbi, que havia nascido em Palmares e vivido até por volta dos 5 a 7 anos, foi sequestrado pelos bandeirantes, criado pelo Padre Antônio de Melo e retornou com 15 anos de idade. Como nasceu em 1655, regressou em 1670 e durante os 8 anos lutou bravamente, seguindo o ideal de liberdade, usando todo o conhecimento que adquiriu fora de Palmares.

Ao questionar a capitulação de Ganga-Zumba, Zumbi não estava questionando o seu papel histórico na construção do Quilombo, mas sim a sua ilusão com as promessas do inimigo, o que é muito diferente, mas após a tomada de posição das 11 das 14 aldeias palmarinas a favor de Zumbi, aquele se sentiu traído e preferiu sair e aceitar as posições da Coroa Portuguesa.

Ganga-Zumba e seus seguidores só descobrem que haviam sido enganados ao chegar na região conhecida como Vale do Cacau, pois além da terra não ser de boa qualidade para o cultivo como a de Palmares, os moradores não teriam liberdade de circulação; além disso, a Coroa manteve Ganga-Zumba e seus seguidores sob vigia. Não podemos afirmar como e por qual motivo Ganga-Zumba morreu, pois há várias hipóteses dentre as muitas. Duas são muito utilizadas: a primeira, ele se matou; e a segunda, que foi assassinado por seguidores de Zumbi.

DANDARA, A GRANDE CHEFE GUERREIRA DE PALMARES

Dandara guerreira de Palmares

Segundo alguns historiadores, Dandara teve um importante papel na luta dos pretos escravizados, sendo uma grande guerreira que se forjou na guerra pela libertação de seu povo. Não se sabe se foi trazida da África ou se nasceu no Brasil, mas sabe-se que tinha uma grande influência e visão de batalha.

Ao lado de Zumbi, Dandara organizou muitos ataques aos engenhos e ganhou o respeito de todos. Também, ao se deparar com a capitulação de Ganga-Zumba em assinar um “Acordo de Paz” com o governo de Pernambuco em 1678, tomou posição ao lado de Zumbi e convocou os demais chefes a seguirem firmes. Ela mostrou, na prática, a capacidade de uma mulher em combate, assim como várias outras, que rompe com a visão romântica de que a “mulher é delicada e frágil”.

Dandara participava de todas as tarefas no Quilombo: lavoura, caça, pesca, capoeira e da resistência e ofensivas armadas. Em Palmares havia vários cultivos de alimentos como milho, mandioca, feijão, batata-doce, cana-de-açúcar e banana. Dandara se forjou como uma autêntica heroína do povo brasileiro, sendo lastimável que quase nada há sobre sua atividade revolucionária, mas o pouco que se sabe a credencia. Também não se sabe como morrera: há historiadores que afirmam que ela, ao ver-se acantonada em um precipício, preferiu se jogar para não ser capturada viva e ser feita escrava pelo inimigo.

A RESISTÊNCIA DE PALMARES

Palmares já nasce sob resistência nos anos de 1580, construído pelos pretos fugidos e embrenhados nas matas da Serra da Barriga, que divide Alagoas e Pernambuco, onde por mais de 100 anos resistiram aos ataques da Coroa Portuguesa.

Segundo alguns historiadores, Palmares acabou em 1695; já para outros durara até 1716. A parcialidade reacionária de muitos historiadores ou pela deturpação das versões oficiais repassadas por gerações faz difícil apreender a totalidade do que se passou na resistência de Palmares. O que importa é que a resistência venceu mais de 30 expedições militares da Coroa, mas aquela chefiada por Domingos Jorge Velho conseguiu romper a fortaleza com o uso de canhões e da tortura como método.

Um dos comandantes do quilombo, Antônio Soares, foi capturado em uma das batalhas e obrigado a entregar o paradeiro de Zumbi. Os bandeirantes, mesmo com a localidade revelada, temiam pelas suas vidas, já que Zumbi e seus guerreiros tinham o respeito de todos pela bravura e determinação. O bandeirante André Furtado de Mendonça organizou uma emboscada, obrigou o delator Antônio Soares a levá-los ao esconderijo de Zumbi e, para não ter erros, obrigou-o a dar o primeiro golpe com um punhal. Zumbi, que se encontrava ferido na região da Serra da Barriga, avistou a chegada do seu comandante Antônio Soares e logo caminhou em sua direção, abraçou-o; o mesmo pediu-lhe desculpas e cravou o punhal nele. Logo a tropa de bandeirantes chegou e terminaram o serviço.

Após assassinado, Zumbi teve o seu corpo esquartejado e sua cabeça salgada e levada à praça do Carmo, em Recife, para que “servisse de exemplo” a todos os que se atrevessem a desafiar a Coroa Portuguesa, como um elemento de destruição da moral revolucionária que percorria o espírito de todos os oprimidos dali. Segundo alguns historiadores, Zumbi teve o seu pênis cortado e colocado em sua boca (costume africano da época para castigar os homossexuais): a intenção era de desmoralizar o chefe guerreiro de Palmares, adorado por todos os pretos e oprimidos, já que os africanos tinham então uma grande repulsa aos homossexuais. Mesmo depois de morto, o exemplo de Zumbi seguiu e segue aterrorizando os algozes do povo e principalmente os que usam suas condições de senhores escravistas, feudais e semifeudais para reprimir milhões de brasileiros.

Longe de ser um reduto apenas dos oprimidos negros, o Quilombo de Palmares era formado pela unidade de várias tribos africanas e também por brancos pobres e indígenas, que foram trazidos para o Brasil para serem explorados pelos portugueses ricos. Não a toa que sobreviveu por mais de 100 anos e só foi destruído porque apontava a uma nova forma de sociedade mais justa ao povo, era a negação da sociedade escravista imperante.

Zumbi foi um grande chefe geral, comandando e dirigindo os mais de 14 mocambos que compunham o quilombo, cada qual com chefes militares e políticos forjados e guiados por aquele, seu chefe maior, forjado e experimentado por quase 20 anos de luta armada contra a Coroa Portuguesa. É papel dos revolucionários e democratas extrair as lições e compreender corretamente este fenômeno que compõe e aporta grande valor ao arsenal de lutas heroicas do povo brasileiro por sua libertação no dado momento histórico.

Viva os mais de 100 anos de resistência ininterrupta do Quilombo dos Palmares!

Viva o grande chefe revolucionário do povo preto Zumbi dos Palmares!

Viva o heroico exemplo dos palmarinos! 

 

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